Prólogo

É um momento passageiro de distração. A menor noção do pensamento remanescente que engatinha nas reflexões, a fagulha que acende a caixa de fusíveis da fixação. E agora é irreversível. A chama se alastrou. Você está acordada.

Talvez é uma pergunta urgente que você queria fazer a alguém há anos mas não o fez. Alguém que entrou nas frestas da sua história e agora eles estão muito longe de qualquer maneira. Todos os navios fantasmas que navegaram para muito longe, mas nessa hora estão atracados no seu porto. Lá com suas bandeiras balançando coloridas e bonitas. E é quase como se fosse real.

Às vezes o sono é tão evasivo quanto a felicidade. Não é impressionante o quão rápido vacilamos entre amor próprio e nojo nessas horas? Num momento, sua vida parece uma noite estrelada. No próximo a névoa já está pairando. De repente você está na cidade que deixou para trás há anos. As árvores da sua juventude com o fantasma da memória com os ecos das suas gargalhadas e as marcas das cordas do seu balanço de pneu no galho. Todos os números de telefone que você ainda sabe de cabeça mas não liga mais. A cara de tristeza do garoto enquanto ele saía de sua casa. O homem de família que ele é agora. O que eles devem pensar de você

Por que você não consegue dormir? Talvez você fique acordada com o sentimento de cair de cabeça numa conexão que parece como um evento cataclísmico surreal. Como uma combustão espontânea, ou ver neve cair numa praia tropical. A sua visão cor-de-rosa que parece o quebrar de uma onda.

Ou foi essa noite quando você percebeu o quão solitária, o quão sozinha você realmente é, não importando o quão alto tenha subido. A altitude só deixa tudo mais gelado.

Algumas meia-noites você está fora e elétrica — uma aventureira em busca de uma diversão arrebatadora. Música torando nos alto falantes e a ousada intimidade de dançar com estranhos. Alguma coisa nesse lugar escuro faz você se sentir brilhante de novo. Nessas noites, você sabe que existem facetas de você que só brilham no escuro.

Por que você ainda está acordada a essas horas? Porque você está encenando fantasias vingativas, nas quais o vilão é levado algemado e você assiste isso acontecer. Você ri para o espelho com um sorriso regado a vinho tinto. Você parece positivamente acabada.

Talvez você estava tentando planejar os sentidos do coração de novo. Talvez você se perdeu no labirinto de sua cabeça, em que o medo fecha suas garras na garganta frágil do amor verdadeiro. Você poderá salvá-lo a tempo? Salvar de quem? Bem, é óbvio. De você.

Ficamos acordados apaixonados e com medo e se afogando e em dúvida e em lágrimas. Encaramos paredes e bebemos até que elas te respondam. Nos apertamos em nossas próprias gaiolas e rezamos que não estejamos prestes — neste mesmo minuto — a cometer um erro que pode mudar sua vida. Essa é uma coleção de músicas escritas na calada da noite, uma jornada pelos terrores e doces sonhos. O chão que percorremos e os demônios que encaramos. Para todos nós que já nos viramos e reviramos e decidimos manter as luzes acesas e irmos à procura. Esperando que talvez, quando o relógio marcar meia noite… nós encontremos.

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